Conflito entre gerações, por que não é tão ruim assim?

A palavra “conflito”  vem do latim COM, “junto”, mais FLIGERE, “Golpear, atacar”. Conflito significa a  ausência de entendimento entre duas ou mais partes por estarem vivenciando interesses, sentimentos ou ideias opostas.

Desde que o homem é homem os conflitos existem. Eles são inevitáveis e até necessários, para o desenvolvimento de qualquer sistema humano, seja ele familiar, social, político ou organizacional. São necessários por que onde não há conflitos, há uma forte tendência para a estagnação, o que pode significar o fim de um sistema.

São as relações interpessoais que dão sentido a vida e se,  de um lado, são fontes de grandes prazeres, de outro, são fontes das maiores decepções na vida, caso não saibamos colocar em prática a arte de criar relacionamentos assertivos. A  maneira como lidamos com o conflito é que pode gerar consequências indesejáveis e prejudiciais para o ambiente.

Um dos tipos de conflito que tem despertado a atenção dos especialistas do mundo do trabalho são aqueles entre as gerações de veteranos, baby boomers, X, Y e Z. Muito tem se falado nos prejuízos sobre os resultados das empresas devido ao tempo que se perde na tentativa de gestão desses conflitos, gestão essa, muitas vezes marcada pelo insucesso.

Cada uma dessas gerações possui o seu modo específico de enxergar o trabalho, nutre interesses diferentes entre si, tem suas crenças e valores e claro,  é fruto das influências sócio-históricas do período em que vivem. Porém, é importante salientar que as definições associadas a cada geração são feitas de forma generalizada. Portanto, não é possível afirmar que todos os pertencentes a uma determinada geração possuam o mesmo comportamento, o que é positivo, visto que as particularidades de cada indivíduo trazem em si uma riqueza fundamental para o bom funcionamento de cada sistema.

Para continuarmos a nossa reflexão, entenda  um pouco sobre a tendência de perfil de cada geração:

Veteranos

Nascidos entre 1925 e 1945. Cresceram vendo guerras, depressões econômicas, problemas políticos e religiosos. Muitos eram obrigados a fugirem da guerra. As opções de carreira eram seguir a área militar ou atuar como operário nas indústrias,  costumavam ficar no emprego até a morte e ajudaram a reconstruir a economia dos EUA. Viram e participaram da revolução industrial.

Baby Boomers

Nascidos entre 1946 e 1964, após a segunda grande guerra, época marcada por grande desemprego. Respeitavam os valores familiares, o autodesenvolvimento, a disciplina nos estudos e comprometimento no trabalho. A estabilidade no emprego era importante e eram obedientes a pais e chefes.

                                                                                                 Geração X

Nascidos entre 1965 a 1979. Filhos dos baby Boomers, nasceram em meio a muitas mudanças como pais divorciados, mães entrando para o mercado de trabalho, lutas por direitos, liberdade e entrada na era da informação, com o surgimento dos computadores. Valorizavam a individualidade sem perder o convívio social. Eram mais realistas e pessimistas devido ao período de guerra. Viram os seus pais perderem o emprego nos processos de reengenharia do trabalho e enxugamento de estruturas hierárquicas. Já não valorizavam tanto a estabilidade profissional, não gostavam de compartilhar ideias e experiências. Passaram pelo momento do homem na lua, a queda do Muro de Berlin, o advento do vídeo cassete. Tais mudanças influenciaram essa geração a fazer uma completa ruptura ideológica e social com as gerações anteriores.

Geração Y

Nascidos entre 1980 e 1995 (alguns demarcam de 1980 a 2000), é também denominada de geração Millennials. É a “geração Net”. Questionadores e destemidos, não hesitam em abandonar os empregos ou recusar propostas que não estejam condizentes com seus princípios e valores. Prezam a qualidade de vida, a flexibilidade de horário, a autonomia na execução das tarefas e têm dificuldades para lidar com estruturas hierárquicas rígidas.  Não imaginam o mundo sem tecnologia. Cresceram dominando conhecimentos que para as gerações anteriores eram um grande desafio.

Essa geração tem muito mais facilidade para realizar várias tarefas ao mesmo tempo, tem um ritmo de vida mais acelerado e não tem paciência para analisar informações com maior profundidade, sendo superficiais ao abordar alguns assuntos. É uma geração que foi exposta a propagandas, filmes e brinquedos violentos e com forte apelo sexual, mas é otimista, proativa, ambiciosa e valoriza o trabalho em equipe.

A educação super protetora dos pais criou jovens com elevada autoestima, o que, além do seu lado positivo,  tem também o seu lado negativo, pois eles têm dificuldades para aceitar o “não” como resposta bem como os próprios erros.  A ausência de limites e o não ensinamento da possibilidade da derrota criaram jovens que acreditam que “podem ser o que quiserem”.

Geração Z

São os nascidos aproximadamente em 1995. Já nasceram em um mundo totalmente informatizado, cresceram conectados e antenados com as informações em tempo real. São pessoas que se preocupam com o meio ambiente e não aceitam trabalhar em empresas cujos princípios e valores não estejam alinhados com os seus. O contato pessoal não é uma característica dessa geração, ao concluírem uma tarefa sozinhos, sentem-se autovalorizados.

De acordo com o site do SEBRAE (2010), esses adolescentes vivem em ritmo acelerado, querem “tudo ao mesmo tempo agora”, dominam a inovação tecnológica e são eficazes no quesito “multifuncional”.  Entretanto, sua capacidade de atenção e concentração a uma única tarefa ficam prejudicadas, visto que a visão do ambiente como um todo os distraem do foco principal. Hierarquia para esses jovens é algo ultrapassado, visto que atuam em rede e acreditam que podem falar a qualquer momento com o presidente da empresa, sem a perda de tempo de falar antes com o seu chefe. Imaginem isso em gerações anteriores…

Concluímos que cada geração, dependendo de seu momento sócio-histórico, pode apresentar comportamentos específicos de sua época e, já que estamos falando dos reflexos dessas visões de mundo dentro das empresas, não tem como deixar de discorrer sobre os desafios que as lideranças encontram para fazer a gestão dessas pessoas.

O ato de conviver requer a capacidade de abertura para ouvir,  flexibilidade, habilidade para negociar e disposição para aceitar as opiniões do outro, sem as ideias preconcebidas ou sentimentos de estar sendo ameaçado ou da perda de poder. Além disso, é certo que o conceito de liderança inspirado no pós-segunda guerra, com seu modelo militar-tecnocrata está com os dias contados.

E como, então, “fazer desse limão uma limonada” e criar um ambiente de trabalho de relações construtivas e saudáveis, no qual predomine o foco na solução dos desafios diários das organizações e os problemas de relacionamento sejam minimizados?

Aí entra o papel da liderança. Segundo os especialistas na área, o verdadeiro líder não é aquele que tem gente atrás de si, mas sim, aquele que tem gente em torno de si. É o líder 2.0, que constrói em conjunto com a equipe, ao invés de apenas impor e comandar. Isso resulta em um grau de comprometimento e engajamento fundamentais para enfrentar as turbulências do mundo atual.

A geração Y quer ver coerência entre o discurso e a prática da liderança, quer ver sentido naquilo que faz e participar de projetos que estão de acordo com os seus princípios e valores, como por exemplo, a preservação do meio ambiente, responsabilidade social e melhoria da qualidade de vida.

Não existe uma fórmula mágica, cada empresa, dentro de sua cultura e valores deve identificar a melhor maneira de criar o engajamento necessário das gerações atuais e vindouras. Uma coisa é certa, os lideres devem dedicar um tempo pensando no assunto e abrir a sua visão, buscando novas formas de liderança, abrindo mão de modelos ultrapassados que não funcionam mais.

Os conflitos entre gerações nas organizações não são tão ruins assim porque é a partir deles que, muitas vezes, o novo se cria, por uma nova via de pensamento, numa dialética necessária entre pessoas comprometidas com a busca de resultados cada vez melhores, desde que,  claro, bem fundamentados e gerenciados.

E atenção… a geração Alpha (nascidos a partir de 2010) já se anuncia e, segundo os estudiosos do tema, são mais inteligentes do que as anteriores.

 

Maria Bernadete Mafra
Diretora de Recursos Humanos da RMG Recursos Humanos.

 

Fonte de pesquisa:

ALBUQUERQUE, Francisco: Geração Y: O Desafio da Espera. Administradores
Anais da Mostra Científica do CESUCA – Conflitos de Gerações
Alpha, a Nova Geração — O Filme – Juliana Mendonça.
http://www.revistaacademica.net/trabalho/18021303.html
file:///C:/Users/pc/Downloads/gestao-de-pessoas-para-a-geracao-y-quebra-de-paradigmas.pdf

 

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