Desemprego e saúde mental

Estar desempregado por um período prolongado pode levar a sérios problemas de saúde, tanto físicos como mentais. Conheça abaixo alguns desses problemas e saiba como o psicólogo poderá lhe ajudar a lidar com eles a fim de reduzi-los e superá-los.

Faz parte do meu cotidiano conviver com pessoas que perderam seus empregos em decorrência da crise econômica que, pelo visto, não tem data para acabar. Ao conversar com algumas dessas pessoas torna-se evidente o quanto a situação de desemprego afeta não somente o bem estar físico, como também o bem estar psicológico de grande parte da população.

Para muitos, perder o emprego num cenário de crise econômica, revela e fortalece o sentimento de total falta de controle do individuo sobre a sua própria vida e o coloca numa posição de inferioridade perante os demais, além de insegurança e medo do futuro.

Mas o que, nos tempos atuais, o trabalho representa para o indivíduo? O trabalho é fator fundamental para a construção da identidade do ser. É através dele, mas não somente dele, que esse ser se reconhece, se realiza como pessoa e se insere na sociedade, sendo reconhecido como alguém produtivo economicamente, garantindo o próprio sustento, o de sua família e contribuindo para girar a roda da economia.

É evidente que o trabalho, nos tempos atuais, é condicionado pelo contexto sócio histórico e moldado pelo capitalismo que tem suas regras próprias e se alimenta dos esforços da classe trabalhadora. Porém, aqui, a nossa reflexão é de outra natureza. Ela procura refletir, a partir das falas de inúmeros desempregados, o impacto que o desemprego ou a falta de um trabalho remunerado tem sobre milhões de brasileiros.

O trabalho tem o poder de conferir dignidade ao ser humano e quando lhe é negada essa possibilidade, a sua dignidade fica ferida, ameaçada, vulnerável e provoca profundo sofrimento psíquico, podendo desestruturar toda a vida da pessoa.

Desesperançados e inseguros quanto ao futuro, as contas que se acumulam para pagar, as cobranças familiares, a perda de prestígio perante a comunidade, (afinal, não se tem carteira assinada), a vergonha, o sentimento de humilhação e fracasso, dentre outros fatores, passam a fazer parte da vida da pessoa e aos poucos sua autoestima e autoconfiança vão sendo prejudicadas, podendo culminar em vários distúrbios psíquicos que incluem o uso de álcool e outras drogas, isolamento social, síndrome do pânico, depressão, compulsões, além de problemas físicos, violência de todas as ordens, enfim… a saúde emocional e física do indivíduo vai sendo seriamente comprometida e em casos mais graves, pode até levá-lo ao suicídio.

É claro que o trabalho, dependendo das suas condições e da forma como é organizado pode ser fator tanto de saúde física e emocional como de doença. Entretanto, a situação de desemprego pode levar à pessoa a ausência de significado com relação à própria vida, a perda do reconhecimento social e da própria identidade. Ela se perde de si mesma na medida em que se vê separada de uma das coisas que lhe é fundamental para a sua experiência enquanto indivíduo, já que o trabalho auxilia no processo de construção de sua subjetividade e é uma das bases da sua dignidade.

Como o Psicólogo, especialmente o clínico ou organizacional, pode atuar nesse contexto tão complexo e desanimador para mais de 14,3 milhões de brasileiros?

O Psicólogo tem papel fundamental na prevenção e tratamento do sofrimento psíquico decorrente do trabalho ou do desemprego prolongado. Na clínica psicológica, por exemplo, a partir da escuta e compreensão da queixa do paciente, das suas angústias, medos e dificuldades, o psicólogo irá auxilia-lo a olhar para a sua situação e a lidar tanto com a perda do emprego quanto com os sentimentos decorrentes dessa perda.

O Psicólogo clínico atuará junto com o paciente no sentido de fazê-lo olhar para si mesmo, para a sua vida como um todo e para a sua realidade atual, identificando sentimentos de dificuldades de aceitação dessa situação, culpa, medo e outros fatores que representam entraves para a sua saúde mental. E mais do que isso, irá auxiliá-lo no processo de compreensão do que está acontecendo em sua vida e ajudá-lo a identificar estratégicas para lidar com a situação e, sobretudo, superar esta fase, que certamente é passageira e tem muito a ensinar.

Comumente abordado apenas como números e cifras, as consequências reais do desemprego sobre as pessoas não são levadas em conta e nem se configuram nas principais noticias dos jornais. Porém, seus prejuízos estão aí, a olhos nus e precisam ser considerados se quisermos um futuro melhor para todos.

 

 

Bernadete Mafra
Psicóloga Clínica e Organizacional

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